quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Hoje velho, ontem jovem




Desde o principio de Dezembro de 2008 que muitos
esqueletos foram tirados dos armários de toda a
gente. Os festejos de natal incluem sempre bacalhau,
rabanadas, sonhos, filhoses e esqueletos de temas
familiares não resolvidos, reprimidos porque parece
mal e não se querem confrontos nem conflitos, mas
vêm numa linda travessa recheada de hipocrisia e
vitimização; quando alguém levanta o recheio,
rapidamente se escondem os ossinhos dos
esqueletos no primeiro armário que se encontrar,
até serem de novo servidos no natal seguinte.
No dia 05 de Janeiro estreou-se um programa, já
dado pela Sic, mas com nova roupagem,
magnificamente liderado pela Conceição Lino:
"Nós por cá"… e no documentário desse dia foi
mostrado o auxilio domiciliário a idosos; o ponto a
que eu quero chegar (ou o esqueleto que eu quero
desenterrar) é o seguinte: Há imensos, milhares de
dedos apontados a quem abandona os mais velhos,
a quem os deixa em lares ou hospitais e familiares
que desaparecem não querendo cuidar dos velhos
pais ou avós. Qual o esqueleto desta acusação?
Talvez, não fique bem socialmente, ou não seja
culturalmente correcto, porque não convém, ver
o princípio deste drama:
Muitos que têm hoje 70, 80 ou mais anos e que estão
despejados em lares, já foram jovens, foram pais e
educadores, e nessa época não tiveram um grão de
amor para dar aos filhos e outras crianças.
Foram pais vazios de afecto e de função que só viam
a sobrevivência e a loucura de amealhar mas que
empurraram para outros a função afectiva.
Estes filhos cresceram sem saborearem um afecto,
um mimo, um amor. Todos os natais tinham que
engolir lágrimas e mostrar a cara da" família feliz".
Aqueles pais CAVARAM um fosso gigantesco, e
agora reclamam algo que nunca tiveram, nunca
deram e queixam-se: quem abandonou quem?
A latência do amor nasce connosco, mas o afecto
aprende-se.
Já sei, que também eles não tiveram quem os
ensinasse, mas por favor, não continuemos esta
cega-rega de acusar uns e vitimizar os outros.
Como psicóloga, deparo-me diariamente com estes
filhos, cujos pais (ou 1 deles) ainda são vivos, e que
choram copiosamente a dor da criança abandonada,
mal tratada, perseguida, humilhada.
Então em que ficamos? – Perguntam vocês – É então
justo que se abandonem seres humanos, como
emplastros usados?
Eu respondo, segundo a minha consciência:
Não, e há soluções para isto: A assistência social,
que averigúe os motivos reais (não os aparentes)
porque se abandonam idosos, e que requeira uma
intervenção familiar, no sentido de tratar os traumas
e dores dos mais novos, para se poderem apaziguar
com a velhice dos pais, mas também para resolverem
os assuntos inacabados da infância.
Terapia, meus amigos, terapia! É resposta de
psicóloga, tudo bem, mas têm melhor? A requerida
mudança de mentalidades, requer um despertar de
consciências: Ter a consciência de que basta de
críticas e julgamentos e passarem à acção. Se não
sabem o que fazer com os idosos da vossa família
ou se não querem cuidar deles, não se sintam maus
ou egoístas. Perguntem antes: porque não consigo?
O que me impede? E façam psicoterapia. Há mais
na vossa infância do que aquilo que querem ver,
e amanhã também terão a idade em que vão precisar
do amor que semearem hoje, ou não…
.

2 comentários:

  1. Fantástico post! Parabéns!

    As próprias assistentes sociais alertam para o facto de não se julgarem as famílias porque por vezes há antecedentes muito fortes para diversos comportamentos que, até no próprio dia-a-dia, se tem conciência pelo comportamento que esses próprios idosos continuam a ter.

    É certo que todos caminhamos para o aperfeiçoamento mas...calma aí com o andor porque nem tudo o que parece é!

    Beijinho

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  2. bela reflexão!

    a rede primária já não depende da teia do cinismo nem das aparências.

    até...

    ResponderEliminar

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